25 de maio de 2011

PEDIU-ME

(GOYA)


Pediu-me… para lá dos olhos vazios e dos gestos aniquilados - escreve um poema. Disse-lhe que não, que a inspiração era medusa traiçoeira e que um homem, não é poeta em todas as horas.

Com dor, por sobre todas as maleitas do seu corpo, levantou-se, encarou-me os olhos, como quem encara a morte de frente e sem medo disse-me – escreve um poema!

Caramba! Hoje não! Talvez amanhã, porque as palavras não jorram despidas e frenéticas em todas as horas!

Prostrou-se ante mim, gemendo, como um servo a seu senhor e disse – escreve um poema.

Dei meia volta e saí… voltei um minuto depois, com a vergonha estampada na cara e cravada na alma, ajoelhei-me a seu lado e entreguei-lhe um poema. Nunca deve um Homem sofrer para receber aquilo a que tem direito!