IMAGEM FOTOGRAFADA E EDITADA PELA GESTORA DO BLOG - CASA FERNANDO PESSOA - MAIO DO ANO DE 2015
Na véspera de não partir nunca
Ao
menos não há que arrumar malas
Nem que
fazer planos em papel
Com acompanhamento
involuntário de esquecimentos,
Para partir
ainda livre no dia seguinte.
Não há
que fazer nada
Na véspera
de não partir nunca.
Grande
sossego de já não haver sequer de que ter sossego!
Grande
tranquilidade a que nem sabe encolher ombros
Por isto
tudo, ter pensado o tudo
É o
ter chegado deliberadamente a nada.
Grande
alegria de não ter precisão de ser alegre,
Como uma
oportunidade virada do avesso.
Há quantas
vezes vivo
A vida
vegetativa do pensamento!
Todos os
dias sine linea
Sossego,
sim, sossego…
Grande
tranquilidade…
Que repouso,
depois de tantas viagens, físicas e psíquicas!
Que grande
prazer olhar para as malas fitanto como para nada!
Dormita,
alma, dormita!
Aproveita,
dormita!
Dormita!
É pouco
o tempo que tens! Dormita!
É a
véspera de não partir nunca!
Obras completas de Fernando Pessoa – Poesias de Álvaro de Campos – Pág. 62 – Edições
Ática – Novembro de 1986.