(IMAGEM FOTOGRAFADA E TRABALHADA PELA GESTORA DO BLOG EM 10/03/2012 - EXPOSIÇÃO FERNANDO PESSOA: PLURAL COMO O UNIVERSO - FUNDAÇÃO CALOUSE GULBENKIAN)
Cansada do trabalho e de alguma
monotonia dos dias, fui desafiada por um grande amigo a espairecer, é que
venhamos e convenhamos, no dia-a-dia da vida esquecemo-nos de tanta coisa importante!
Assim, caminhámos os dois entre cumplicidades até à Gulbenkian para “bisbilhotar”
Pessoa.
O título escolhido para a exposição
foi de facto muito bem concebido: Fernando Pessoa Plural como o Universo.
Não existe um escritor tão plural e
ao mesmo tempo tão singular como Fernando Pessoa. Não vou entrar pelos meandros
dos seus heterónimos, ou, pela singularidade da sua escrita, isso seria
devassar a genialidade de um Homem com alma de Universo.
Ao transeunte, recomendo a
exposição que é muito visual é extremamente sensorial, contudo, não reúne o
melhor de Fernando Pessoa, nem explora toda a sua pluralidade, mas permite um
mergulho na escrita poética do escritor, pecando por não trazer aos olhos do
público a globalidade da sua escrita.
Por fim, partilho um trecho de um
dos meus textos favoritos de Pessoa.
“Às vezes,
quando penso nos homens célebres, sinto por eles toda a tristeza da
celebridade.
A celebridade é um plebeísmo. Por isso deve ferir uma alma delicada. É um plebeísmo porque estar em evidência, ser olhado por todos inflige a uma criatura delicada uma sensação de parentesco exterior com as criaturas que armam escândalo nas ruas, que gesticulam e falam alto nas praças. O homem que se torna célebre fica sem vida íntima: tornam-se de vidro as paredes da sua vida doméstica; é sempre como se fosse excessivo o seu traje; e aquelas suas mínimas acções - ridiculamente humanas às vezes - que ele quereria invisíveis, coa-as a lente da celebridade para espectaculosas pequenezes, com cuja evidência a sua alma se estraga ou se enfastia. É preciso ser muito grosseiro para se poder ser célebre à vontade.
A celebridade é um plebeísmo. Por isso deve ferir uma alma delicada. É um plebeísmo porque estar em evidência, ser olhado por todos inflige a uma criatura delicada uma sensação de parentesco exterior com as criaturas que armam escândalo nas ruas, que gesticulam e falam alto nas praças. O homem que se torna célebre fica sem vida íntima: tornam-se de vidro as paredes da sua vida doméstica; é sempre como se fosse excessivo o seu traje; e aquelas suas mínimas acções - ridiculamente humanas às vezes - que ele quereria invisíveis, coa-as a lente da celebridade para espectaculosas pequenezes, com cuja evidência a sua alma se estraga ou se enfastia. É preciso ser muito grosseiro para se poder ser célebre à vontade.
Depois, além dum plebeísmo, a celebridade é uma
contradição. Parecendo que dá valor e força às criaturas, apenas as desvaloriza
e as enfraquece. Um homem de génio desconhecido pode gozar a volúpia suave do
contraste entre a sua obscuridade e o seu génio; e pode, pensando que seria
célebre se quisesse, medir o seu valor com a sua melhor medida, que é ele
próprio. Mas, uma vez conhecido, não está mais na sua mão reverter à
obscuridade. A celebridade é irreparável. Dela como do tempo, ninguém torna
atrás ou se desdiz.
E é por isso que a celebridade é uma fraqueza também.
Todo o homem que merece ser célebre sabe que não vale a pena sê-lo. Deixar-se
ser célebre é uma fraqueza, uma concessão ao baixo-instinto, feminino ou
selvagem, de querer dar nas vistas e nos ouvidos.”
Notas Autobiográficas
e de Autognose