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(IMAGEM FOTOGRAFADA E TRABALHADA PELA GESTORA DO BLOG - GRANADA ANO DE 2007)
Outra e outra vez o som da tua voz…
estou cansada. São cinco horas da manhã e eu estou cansada! Mas o som da tua
voz retorna, penetra-me nas artérias ressequidas, sai da caixa bolorenta onde o
deixei e invade-me a casa inteira. Porquê?
Dizem que os lémures são como os
abutres, mal se lhes dá o cheiro da morte anunciada, rondam os corpos à espera
do último suspiro para o banquete. Bons deuses! Porque não começa esse
banquete?
Mas o som da tua voz regressa…
desconfio já deste dessossego velho, que nem trás a morte anunciada, nem aos
deuses leva as pobres suplicias desta alma cansada.
Rendo-me! Mais nada me resta… e lanço
às Parcas as memórias turvas de um passado que me recuso a acreditar ter sido
meu.
Caramba! Ao menos a essa liberdade
tenho direito! Escrevam o que quiserem na ardósia da minha vida, mas nego-me a
ceder-vos, a liberdade de acreditar nessa escrita!
Amor? Que amor? Desgaste, medo,
infortúnio, chacina completa de todas as vértebras mas amor, nunca! A rendição será
esperada pela hora da minha morte, nunca antes e nunca depois. E eu estou viva,
tão viva! Que te escrevo hoje para lamento dos teus pesares e espanto dos meus
fantasmas.
Ah! Mas eu não rezo aos deuses! Não
vou nas mezinhas da avó e não cedo aos enlaces de cordel! É vida, é minha e no
sangue espesso que me bombeia o coração cabe todo um sentir que não te
pertence.
Falas, e eu forçada sou a ouvir o
som da tua voz, mas esqueces-te que logo que principia a manhã, o som esvai-se e a
vida penetra-me nessa paixão que só nós as duas partilhamos, e no novo dia meus
passos erguem-se de encontro ao caminho.
Para trás fica o som da tua voz, o meu cansaço e a minha rendição, e na soma dos dias tudo não passou de
uma batalha de peito às balas numa noite de sono sem guarda. Por hoje
basta-me, sigo adiante.
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