23 de dezembro de 2011

MEDO


(PABLO PICASSO 1903)

O medo, esse gigante de que todo o Homem foge, mesmo que, olhado bem de perto, ele mais não seja que um pigmeu, tem sido ao longo dos séculos a ervilha que atormenta o doce sono da princesa, o tremeluzido esfriar da espada do herói perdido na tormenta de si mesmo.


Ao longo dos dias, dos meses, dos anos…. enfim, da vida bucólica da História, tantos foram os medos que partiram, outros tantos, fizeram da sua presença uma acutilante premência, ou, não vivêssemos nós a eterna luta do Homem com a sua sombra.


Inventaram-se máquinas de destruição maciça, proclamou-se a guerra a plenos pulmões em nome de uma causa, em nome de um dar e de um tirar e assim se reduziram cidades a pó, Estados a dependências, culturas a lémures…


Aos poucos, como que embriagados na certeza de uma qualquer verdade, cremos estar perto de destruir a erva daninha que atormenta a paz e tranquilidade do Éden, cremos no reinventar do Mundo e do Homem, cremos ser capazes de fazer a Fénix renascer das cinzas.


Pergunto-me, quão longe estamos do sonho de Nero de incendiar Roma para a fazer renascer bela e graciosa, Dona e Senhora do Mundo?


E o medo? Onde pairará ele depois de tudo ser destruído?


Mas eis que nasceu uma nova aurora, ó Homem, acordámos e um foguetão aterrou na lua, umas páginas adiante e já nós procurávamos água em Marte, porque isto de, reinventar o mundo è vulgo perdido no sempre igual e é preciso ir mais adiante…


Mais adiante na nossa fuga, mais adiante que a nossa sombra, e assim, transportaremos para um eterno amanhã a malfadada confrontação, certos de que nesse amanhã, e nunca no hoje, residirá a precisa dose de coragem para o combate. Entretanto, como Césares venceremos e destruiremos tudo, certos da nobreza das nossas crenças, Donos e Senhores das nossas verdades.


E o medo?


Qual medo? Hoje estou cansado, a vida exige de mim, vivo e trabalho para reinventar o mundo, para me reinventar a mim. Sabes, talvez eu consiga o elixir da juventude, ou, talvez atinja a imortalidade, quem sabe se amanhã não estaremos em Júpiter… vê o quanto posso ser… observa o quanto é bela a minha obra.


E assim, com toda a sua arte e engenho concede o Homem hoje, como ontem e como sempre, a um pigmeu a força de um gigante.