20 de fevereiro de 2013

FAZ FRIO




FAZ FRIO

Por entre o olhar vazio dos corvos



FAZ FRIO

Nas folhas do papel que não quis ser



FAZ FRIO

Nas entrelinhas estéreis da razão



FAZ FRIO

No eco dos fantasmas perdidos nos dias



FAZ FRIO

No medo alado ao sabor do infortúnio



FAZ FRIO

No semblante dorido do lobo que aguarda o desferir de mais um golpe



FAZ FRIO

No homem que se apartou da singeleza do ser



FAZ FRIO

De mim, de ti, de nós no desassossego do sentir



FAZ FRIO

Porque de frio nos vestimos uma vida inteira
Crentes na lógica matemática de um lugar no céu dos deuses e nas estátuas dos homens

12 de fevereiro de 2013

O PUPILO TRAVESSA POR VEZES DO MESTRE, PRONTO!

(IMAGEM RETIRADA DAQUI)
 
“Que longo vómito este Les Chemins de la liberté de Sartre. Afinal de que serviu aos Gregos pregarem o equilíbrio? Bebamos à saúde da inteligência! Mas não há maneira da turva populaça que bebendo à saúde do ciclista, do boxeur, põe em glória apenas a perna e o punho do outro. Racionalismo não é intelectualismo. Sobretudo não é traição àquilo que nos permite o luxo intelectual. Amigo Sartre, mete uma enxada nas unhas aos teus pederastas, aos teus vadios de café, põe-me essa Ivitch a lavar roupa, a roçar o soalho da casa, dá-lhes a todos, para roerem, um corno de realidade. E conta-nos depois.”Vergílio Ferreira “Diário Inédito” – Melo, 15 de Agosto de 1948.
“Em Sartre mal há dor. E nas situações mais trágicas uma secura prévia desintegra quase em cinismo, roçando a gaucherie, o sofrimento que se não aceita, que a justiça recusa, que se recusa pelo risco da sensiblerie – mas que se não transpõe sequer a um plano de força, de coragem traduzida em serenidade. Mas seria um erro grave que esse quase cinismo, aflorando na destruição da gravidade, o tomássemos realmente por cinismo. Sartre é humano contra a sua vontade de desautorizar o sofrimento, de o negar num quase escárnio, de o combater pelo autodomínio de um raciocínio frígido. Fala-nos dessa humanidade a sua luta enorme, traduzida em acção real e imediata, como no seu próprio e infindável questionar, transposto à sua obra maciça. E é só porque ele existe nosso irmão desejável ou indesejável, que à sua voz a ouvimos como nossa, venha dos cafés «equívocos» ou das tribunas dos congressos. Presente ao mundo e concertado com ele, ainda que o mundo disso se espante, Sartre é hoje uma força irrecusável, mais força talvez que a de tantos intelectuais que pessoalmente preferimos.”Vergílio Ferreira “O Existencialismo É Um Humanismo – Da Fenomenologia A Sartre” – Fontanelas, 5 de Setembro de 1961.
Como cresces-te Companheiro Vergílio! Mas é preciso negar para descobrir a força bruta de Existir! Após o último debate entrámos no reino da aceitação, aceitámos que nos negaríamos sempre, para depois, nos entranharmos serenamente. O pupilo travessa por vezes do mestre, pronto!