12 de fevereiro de 2013

O PUPILO TRAVESSA POR VEZES DO MESTRE, PRONTO!

(IMAGEM RETIRADA DAQUI)
 
“Que longo vómito este Les Chemins de la liberté de Sartre. Afinal de que serviu aos Gregos pregarem o equilíbrio? Bebamos à saúde da inteligência! Mas não há maneira da turva populaça que bebendo à saúde do ciclista, do boxeur, põe em glória apenas a perna e o punho do outro. Racionalismo não é intelectualismo. Sobretudo não é traição àquilo que nos permite o luxo intelectual. Amigo Sartre, mete uma enxada nas unhas aos teus pederastas, aos teus vadios de café, põe-me essa Ivitch a lavar roupa, a roçar o soalho da casa, dá-lhes a todos, para roerem, um corno de realidade. E conta-nos depois.”Vergílio Ferreira “Diário Inédito” – Melo, 15 de Agosto de 1948.
“Em Sartre mal há dor. E nas situações mais trágicas uma secura prévia desintegra quase em cinismo, roçando a gaucherie, o sofrimento que se não aceita, que a justiça recusa, que se recusa pelo risco da sensiblerie – mas que se não transpõe sequer a um plano de força, de coragem traduzida em serenidade. Mas seria um erro grave que esse quase cinismo, aflorando na destruição da gravidade, o tomássemos realmente por cinismo. Sartre é humano contra a sua vontade de desautorizar o sofrimento, de o negar num quase escárnio, de o combater pelo autodomínio de um raciocínio frígido. Fala-nos dessa humanidade a sua luta enorme, traduzida em acção real e imediata, como no seu próprio e infindável questionar, transposto à sua obra maciça. E é só porque ele existe nosso irmão desejável ou indesejável, que à sua voz a ouvimos como nossa, venha dos cafés «equívocos» ou das tribunas dos congressos. Presente ao mundo e concertado com ele, ainda que o mundo disso se espante, Sartre é hoje uma força irrecusável, mais força talvez que a de tantos intelectuais que pessoalmente preferimos.”Vergílio Ferreira “O Existencialismo É Um Humanismo – Da Fenomenologia A Sartre” – Fontanelas, 5 de Setembro de 1961.
Como cresces-te Companheiro Vergílio! Mas é preciso negar para descobrir a força bruta de Existir! Após o último debate entrámos no reino da aceitação, aceitámos que nos negaríamos sempre, para depois, nos entranharmos serenamente. O pupilo travessa por vezes do mestre, pronto!


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