(IMAGEM FOTOGRAFADA PELA AUTORA DO BLOGUE - ROMA 2010)
"Uma obra não resolve nada, assim como o trabalho de uma geração inteira não resolve nada. Os filhos - o amanhã - recomeçam sempre e ignoram alegremente os pais, o já feito. É mais aceitável o ódio, a revolta contra o passado do que esta beata ignorância. O que havia de bom nas épocas antigas era a sua constituição graças à qual se olhava sempre para o passado. Este, o segredo da sua inesgotável plenitude. Porque a riqueza de uma obra - de uma geração - é sempre determinada pela quantidade de passado que contém."
Cesare Pavese, in 'O Ofício de
Viver' - texto retirado do Citador.
Para mim a riqueza do Homem, não reside no presente ou no
futuro, mas sim no passado, no já experimentado, no bom e no mau, essencialmente,
no vivido. Só assim se pode construir um presente e um futuro. A necessidade de
ruptura com o que foi, levou o Homem a esquecer o que é e de onde vem,
limitando à priori o que será. E porquê? Porque na sua fuga embebida de
revolta, ele abandona os erros, ignora-os, esconde-os debaixo do tapete, negligenciando,
levianamente, conhecimento e suporte às gerações futuras.
De tragédias gregas e de heróis romanescos está a eternidade
cheia, garantimos isso a cada virar de página do livro da vida. Há milénios que
o Homem caminha sobre os seus dois pés, contudo, e como desde o inicio, é ainda
incapaz de caminhar com a cabeça sobre os ombros.
Cesare Pavese, transcreve em linhas o essencial, uma grande
obra, uma grande batalha vencida, não resolve nada, absolutamente nada, e
porquê? Porque, amanhã também ela será esquecida, lançada às parcas e desfeita
em pó como os ossos dos antepassados. O Homem do hoje só quer os feitos do
futuro, a magnitude do ego alçado até á lua, tal qual, vencedor da suprema
glória.
Dizei-me, quantos erros do passado praticas tu hoje, porque ignoras
onde se errou ontem? Ajudar-te-ia mais a criar o amanhã ideias frescas e novas,
ou, o conhecimento do que já foi, para que também tu possas não cair na mesma sacrossanta
asneira?
Por último, pergunta-te: Onde serei mais Homem? A odiar, excomungar
e a erguer revoluções por cada um dos erros do Homem. Ou, aprendendo a construir,
a erguer e a solidificar os alicerces da Humanidade em cima de cada erro que já foi cometido?
Ignora o que foi feito ontem e vence muitas batalhas, tantas quantas te permitirem o corpo e os deuses. Ergue grandes obras e uma estátua a cada esquina por todos os teus feitos, mas não te esqueças que há um amanhã e nele serás tão ignorado, como ignoras-te o teu passado.