(IMAGEM RETIRADA DAQUI)
Olhou com dor os olhos dela, partiu. O caminho será
longo, dias virão que se arrependerá de ter partido, mas hoje venceu-o o
cansaço, o silêncio, a raiva incontida dos gestos que os aniquilam aos dois.
Onde pode estar, na ausência, o amor?
O hábito articulou-lhes os dias, as respostas sempre iguais,
o passar das horas e a contagem dos segundos numa aceitação passiva de um
amanhã, nem melhor, nem pior, mas tão vazio como o hoje. Onde pára a memória do
primeiro beijo? Que importa isso? Há as contas para pagar, os almoços de
domingo, há o cunhado, a irmã, o pai, a tia, o primo, e toda uma sociedade a
quem não se pode desiludir, fica-se.
Fica-se porque é dura a mudança, porque se teme a perda, o
arrependimento, o passo errado. Ficasse porque é cómodo, é conhecido, é chão já
palmilhado e não se tem de pedir perdão.
Fica-se porque o lamento é fácil, é a ardósia segura com que
se pode escrever uma vida, e um suspiro dói menos que uma lágrima.
Há lá fora ar vivo de novos rosto, novas vibrações… e de
novo a ausência de um para com outro, como foi que te conheci?
Mas hoje, hoje venceu-o o velho cansaço e por isso parte. A
cabeça descolou-se do corpo… um turbilhão! E a vontade de gritar surge para
afastar esse nó que lhe sufoca as entranhas.
Parte, não por um novo amor que lhe bate à porta, essa seria
uma estrada segura…sim uma estrada segura…. Mas ele parte apenas porque lhe
sufocam as memórias do que foi e a inexistência do que é.