(Rembrandt - Auto-retrato)
Ante ti escrevo com as mãos gastas de uma labuta
Gasto o tempo e a vontade, restam-me linhas…
Dessas que se apelidam de tortas, mas que se endireitam
A remate nos passos de um homem.
Poderia ter ganas de poeta, remar contra marés,
Mares ou sonhos nunca antes navegados!
Arregalar-me no tempero de um acepipe
E gritar a plenos pulmões, oh infortúnio que me quedaste!
Mas são linhas e nessas só o pincel de retratista tem o seu engenho.
Diria que sim, que tens razão quando rezas as mezinhas
E te enfeitas de pertences para justificação do auguro,
Mas temo ser por demais certo o engodo dos deuses.
Na chama da vida não sobra espaço para desenganos,
Não há vespertinos enlaces nem noivos de papel.
Há sentido, de irmão caminho do teu ser.
E se é embarrilo do mistério?
Sossega, que ante ti escrevo, gasto mas vivo ainda,
Linhas de uma memória que se esvai morna.
Não é volúpia ou narcisismo de espelho é saudade!
Essa que só neste canto de mar ainda é real.