21 de maio de 2013

ANTE TI

(Rembrandt - Auto-retrato)



Ante ti escrevo com as mãos gastas de uma labuta

Ardilosa e decrépita de significados.

Gasto o tempo e a vontade, restam-me linhas…

Dessas que se apelidam de tortas, mas que se endireitam

A remate nos passos de um homem.



Poderia ter ganas de poeta, remar contra marés,

Mares ou sonhos nunca antes navegados!

Arregalar-me no tempero de um acepipe

E gritar a plenos pulmões, oh infortúnio que me quedaste!



Mas são linhas e nessas só o pincel de retratista tem o seu engenho.

Diria que sim, que tens razão quando rezas as mezinhas

E te enfeitas de pertences para justificação do auguro,

Mas temo ser por demais certo o engodo dos deuses.



Na chama da vida não sobra espaço para desenganos,

Não há vespertinos enlaces nem noivos de papel.

Há sentido, de irmão caminho do teu ser.

E se é embarrilo do mistério?



Sossega, que ante ti escrevo, gasto mas vivo ainda,

Linhas de uma memória que se esvai morna.

Não é volúpia ou narcisismo de espelho é saudade!

Essa que só neste canto de mar ainda é real.



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