15 de outubro de 2016

Nitescência






(Imagem fotografada pela gestora do blog – Rua Augusta, Lisboa – Outubro de 2016.)






Os últimos dias têm sido profícuos em critica. Ao espanto do novo Prémio Nobel da Literatura associou-se uma frenética verborreia ideológica do que é a literatura. Que o novo causa temor, não é em si mesmo novidade, contudo, não foi o temor da novidade que assolou o dedilhar critico, antes foram as amarras ao passado que inflamaram os discursos. Tocou-se a ferro na ferida do escritor, mister maior da literatura, assim ditam os costumes, e por fim colocou-se à prova a essência da sua pena.

O que deveria espantar e não espanta, é o comodismo com que os senhores da pena inflamam as suas obras, desumanizando-as. A essência da literatura não reside num vasto leque de montras ou numa escrita voluptuosamente refinada, dicionários e compêndios servem apenas para as prateleiras das bibliotecas. A incessante busca do perfeito e da figura maior, não serve ao Homem e concomitantemente não serve à literatura.

É-se em poucas palavras sumptuosamente bairrista no fincar de uma expressão de arte perante todas as demais. A rotulagem serve a garrafa ou o pacote de arroz na prateleira do supermercado, mas não serve à literatura enquanto manifestação humana e humanista. Da mesma forma não é um prémio por mais nobre, ou, granjeado que seja, que define ou rotula a universalidade e essência de uma obra ou de um autor.

Uma vantagem se vislumbra, no meio da ditadura do Nobel, a de que o escritor crie cada vez mais para os homens e menos para os prémios.