23 de julho de 2010

UMA HIPÓTESE E DUAS CORRENTES

(DESENHOS DE LEONARDO DA VINCI)


Um dia vão escrever-me a biografia, com atestados e certidões, coisa imponente. Vão verificar que existi á força bruta de um assento de nascimento e com a certeza de um óbito.

Para talhar o trabalho, sempre tão difícil de descrever o caminhar de um Homem, escrevam apenas: nasceu, aprendeu a andar e um dia pereceu exausta de tanto pensar; é o que basta, as entrelinhas ditarão o resto.



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Penso com todos os fios da razão

E logo ali ela se me perdeu.

Escuto a verdade com toda a força

Do meu ouvir e logo ali ela se silenciou.

Vejo o sonho com toda a utopia

De se sonhar e logo ali ele se quedou.

São assim escrupulosas as artérias de se ser.

Esgrimem argumentos os pensantes

Mas também eles são agnósticos.

Com que ficamos depois da tempestade?

Com os cacos do que não se lhe levou as águas da tormenta.

Chega? Talvez… mas quem me pediu para existir?



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Toda a metafísica se me dói

Como uma linha de Verlaine em Pessoa.

Toda a existência se me corrói

Como uma linha de Sartre em Vergílio.

E são assim construídos sentidos ausentes

Com a força pura do pensar

Como esses ossos dormentes em que me deixo estar.

Há laia de me ler nas palavras dos outros

Vou-me adocicando em sonos poucos

Mas toda a pureza do Ser vai aos outros buscar

A certeza de Ter águas em alto mar.

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