20 de janeiro de 2013

ESTE JOGO NÃO ME DIVERTE.

(IMAGEM RETIRADA DAQUI)
 
 
 
Deixei-me cair por entre os livros. Entre a lógica, a razão e os sentidos, ficam de fora tantos outros “ser”. A plasticidade da vida mundana sempre me entreteve entre um ou outro auguro descrente. O agnosticismo é-me natural, como é o saber que respiro, sem necessidade de sentir o ar, ou, os pulmões… e recordo a frase sublinhada “este jogo não me diverte”…
Porque em mim até o divertimento é sério, tamanho é o compromisso assumido, depois chegam os dias e as suas azáfamas, pequenos acepipes de um banquete que serve a todos, que come a todos, que brinda e bebe a todos e a todos vomita.
A lança exangue e pontiaguda dos porquês de sentido, a pedra de toque, a catana que procura incessantemente desbravar essa selvajaria desenxabida das aparências fáceis. Onde estás tu Homem?
E sempre a recusa do óbvio, do alcançável e do tangível. Porquê? Porque não somos argamassa, não somos cordéis de embrulho, nem o papel pardo da velha mercearia abandonada à esquina entre um e outro grafismo de um adolescente com ganas de rebeldia. Não somos a lisura do mármore polida até exaustão. Somos Homem, mesmo que o neguemos até ao fim!
E é nessa negação que mais somos. É nessa contínua destruição que existimos. Elevamo-nos ao nível dos deuses que inventámos para, por pura volúpia, nos arremessarmos até às profundezas do esquecimento.
A caça que gerou o caçador, a besta que acolhe a criança abandonada por medo da solidão. Somos Homem mas não somos ninguém. O gigante que nasceu pigmeu e que orgulhosamente, prefere a sua sombra ao seu ser. A imagem bajuladora do espelho, o regozijo do ego elevado universo fora, o eterno negligente de SER.
Caber-me-á fazer todas estas considerações? Caber-me-á lançar a mote das perguntas? Não bastariam os montes dos livros? Os outros? Não… não é possível um alheamento negligente e acéfalo da vida, a quem nunca o foi.
 


18 de janeiro de 2013

AQUIESCÊNCIA .

(IMAGEM FOTOGRAFADA PELA GESTORA DO BLOGUE)
 
Olha o infinito como se o procurasse perder… perder esse incógnito conhecimento de um “se”, uma pedra mais lançada ao charco das mediações. Faltava-lhe a vista, e agradecia por isso, nem sempre o corpo traí os homens com as suas maleitas.
O tempo, a perda do físico e o desgaste das palavras, haviam-lhe permitido conhecer o vazio, aquele de quem toda a vida havia fugido, como o criminoso foge da pena, e concomitantemente, da confrontação consigo mesmo.
Sorri, um sorriso lato, limpo e saciado, pensando de si para si, o quanto eram simples as essências da vida. Mas foi preciso percorrer esse chão, tropeçar nos buracos e cair de joelhos nos meandros dos cem mil porquês. Não poderia ser de outra forma, o homem nasce sem mapa, sem bússola, ou rota definível e acima de tudo, sem manual de instruções.
Sempre o preocupou o acto, o seu, porque com o dos outros nunca contou. Preocupou-o ser justo, mas nunca elevou essa justeza a si mesmo, exigiu uma perfeição que nunca existiu, e hoje, nesse olhar que já não vê longe, há uma aceitação simples e quieta.
Já não serão necessárias mais perguntas, para afirmar perante o Criador, que viveu, morreu e renasceu em pleno, é hoje o Senhor dos seus erros, mas é também o único conhecedor das suas virtudes.
Espera não partir nunca, continuar no ontem como no hoje, com a construção da sua obra. Isso sim, é-lhe fulcral, como lhe é o sangue que bombeia as artérias e o mantém no mundo. Mas conhecedor de si, sabe que nada é eterno e há um dia em que a renovação termina e a obra, boa ou má, depara-se concluída.
Fecha os olhos, respira fundo, sente o dilatar dos pulmões e o pulsar da demanda, está pronto, a sua obra é que ainda não, faltam-lhe ainda os pequenos e vitais pormenores. Abre os olhos e mais uma vez agradece a falta de vista, só assim poderia ter achado perto, o que longe sempre procurou.