Deixei-me cair por entre os
livros. Entre a lógica, a razão e os sentidos, ficam de fora tantos outros “ser”.
A plasticidade da vida mundana sempre me entreteve entre um ou outro auguro
descrente. O agnosticismo é-me natural, como é o saber que respiro, sem
necessidade de sentir o ar, ou, os pulmões… e recordo a frase sublinhada “este
jogo não me diverte”…
Porque em mim até o divertimento é
sério, tamanho é o compromisso assumido, depois chegam os dias e as suas
azáfamas, pequenos acepipes de um banquete que serve a todos, que come a todos,
que brinda e bebe a todos e a todos vomita.
A lança exangue e pontiaguda dos
porquês de sentido, a pedra de toque, a catana que procura incessantemente desbravar
essa selvajaria desenxabida das aparências fáceis. Onde estás tu Homem?
E sempre a recusa do óbvio, do alcançável
e do tangível. Porquê? Porque não somos argamassa, não somos cordéis de
embrulho, nem o papel pardo da velha mercearia abandonada à esquina entre um e
outro grafismo de um adolescente com ganas de rebeldia. Não somos a lisura do
mármore polida até exaustão. Somos Homem, mesmo que o neguemos até ao fim!
E é nessa negação que mais somos.
É nessa contínua destruição que existimos. Elevamo-nos ao nível dos deuses que
inventámos para, por pura volúpia, nos arremessarmos até às profundezas do
esquecimento.
A caça que gerou o caçador, a
besta que acolhe a criança abandonada por medo da solidão. Somos Homem mas não
somos ninguém. O gigante que nasceu pigmeu e que orgulhosamente, prefere a sua
sombra ao seu ser. A imagem bajuladora do espelho, o regozijo do ego elevado
universo fora, o eterno negligente de SER.
Caber-me-á fazer todas estas
considerações? Caber-me-á lançar a mote das perguntas? Não bastariam os montes
dos livros? Os outros? Não… não é possível um alheamento negligente e acéfalo
da vida, a quem nunca o foi.