(IMAGEM FOTOGRAFADA PELA GESTORA DO BLOGUE)
Olha o infinito como se o
procurasse perder… perder esse incógnito conhecimento de um “se”, uma pedra
mais lançada ao charco das mediações. Faltava-lhe a vista, e agradecia por
isso, nem sempre o corpo traí os homens com as suas maleitas.
O tempo, a perda do físico e o
desgaste das palavras, haviam-lhe permitido conhecer o vazio, aquele de quem toda
a vida havia fugido, como o criminoso foge da pena, e concomitantemente, da confrontação
consigo mesmo.
Sorri, um sorriso lato, limpo e saciado,
pensando de si para si, o quanto eram simples as essências da vida. Mas foi preciso
percorrer esse chão, tropeçar nos buracos e cair de joelhos nos meandros dos
cem mil porquês. Não poderia ser de outra forma, o homem nasce sem mapa, sem bússola,
ou rota definível e acima de tudo, sem manual de instruções.
Sempre o preocupou o acto, o seu,
porque com o dos outros nunca contou. Preocupou-o ser justo, mas nunca elevou
essa justeza a si mesmo, exigiu uma perfeição que nunca existiu, e hoje, nesse
olhar que já não vê longe, há uma aceitação simples e quieta.
Já não serão necessárias mais perguntas,
para afirmar perante o Criador, que viveu, morreu e renasceu em pleno, é hoje o
Senhor dos seus erros, mas é também o único conhecedor das suas virtudes.
Espera não partir nunca,
continuar no ontem como no hoje, com a construção da sua obra. Isso sim, é-lhe
fulcral, como lhe é o sangue que bombeia as artérias e o mantém no mundo. Mas conhecedor
de si, sabe que nada é eterno e há um dia em que a renovação termina e a obra,
boa ou má, depara-se concluída.
Fecha os olhos, respira fundo,
sente o dilatar dos pulmões e o pulsar da demanda, está pronto, a sua obra é
que ainda não, faltam-lhe ainda os pequenos e vitais pormenores. Abre os olhos
e mais uma vez agradece a falta de vista, só assim poderia ter achado perto, o
que longe sempre procurou.
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