(Fotografia e edição da gestora do blogue)
Pela primeira vez não sou eu quem escreve…
Poema mudo, plenificado de gestos e sentidos
Silêncio enxadado a toque e mimica
Mas os mortos negaram-no a ferro frio
Clamavam voz na mortalha da palavra.
Os mortos também choram no vazio
Nesse hiato que ecoa entre os passos perdidos e o nada que são
Nesse hiato que ecoa entre os passos perdidos e o nada que são
Esse nada a que as memórias omissas os vaticinam
Como balas de borracha perdidas no oceano bravio
Está-se morto e é tudo, e esse tudo também dói.
Pela primeira vez não sou eu quem escreve…
Aqui, num só agora, são vossos estes vómitos
Tanger trémulo e titubeante de medo
Rijeza crua e seca talhada sem grito
Rebentação de ossos e esquecimento.
Quebrou-se a ardósia para escrever, sangue de jorrar
Peito aberto, pulmões ao alto e coração batente
Porque são mortos, porque são esquecidos
Adustos em fotografias debotadas e bolorentas
Deslembrados de um qualquer baú da vida.
Pela primeira vez não sou eu quem escreve…
Hoje, escreveram-me a mim.
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