(METAMORFOSE DE NARCISO - SALVADOR DALÍ)
Gladiavam
às cegas o valor da visão, não aquela que advém dos olhos mas aquela outra que
tolda o rumo de um Homem. Esgrimiam palavra a palavra na volúpia da retórica,
troca falaz de egos. A inteligência da argumentação, a soma impar das premissas
e o brilharete da conclusão, tudo cabia na chama imperiosa do princípio.
Discutiam
como mestres de uma arte entranhada à força do raciocínio, mas findo o teatro
da corte saiam vazios, despojados e inertes do sentido, quer das palavras quer
da visão.
Questionavam
sozinhos nos seus leitos de existências como teriam os sentidos escondido da
razão o porquê das coisas. Era manifesto que em teoria o homem era perfeito,
que em teoria a razão podia e devia comandar, mas era nos sentidos que ele,
Homem, nascia, experimentava e se elevava. Como? Se era a razão o solo fértil e
seguro? A lógica aliada à dedução dessentida dos factos era sem suprema dúvida
o único caminho da verdade, mas olhavam as conclusões com os seus olhos de
gente e elas eram frias estéreis e inverosímeis.
Voltavam
ao debate, afastados ficariam esses fios de vivência… na polidez da perfeição
não existe espaço para falhas, não existe espaço para porquês, o fulcral era
encontrar a certeza com que se poderiam e deviam brindar os princípios dos
novos homens.
Cegos
de escolástica discutiam a visão sem nunca medirem ao Homem o seu pulso. Na
perfeição do princípio morreram por desconhecerem a sua própria natureza.
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