5 de junho de 2009

QUANTO VALES?


Um homem a quem é dado possuir um bem invulgar não pode considerar-se um homem vulgar. Cada um é tal qual os bens que possui. Um cofre vale pelo que tem lá dentro, melhor dizendo, o cofre é um mero acessório do conteúdo. Imaginemos um saco cheio de dinheiro: que outro valor lhe atribuímos além do valor das moedas nele contidas? O mesmo se verifica com os donos de grandes patrimónios: não passam de simples acessórios, de suplementos. A razão de o sábio ser grande está na grande alma que possui. Por conseguinte, é verdade que tudo quanto está ao alcance do mais desprezível dos homens não deve ser considerado um bem. Nunca direi, por exemplo, que a insensibilidade é um bem: quer a cigarra quer o pulgão são dotados dela! Nem sequer chamarei um bem ao repouso ou à ausência de desgostos: há bicho mais repousado do que um verme?
Séneca, in “Cartas a Lucílio”. Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian. 1991

Gosto de Séneca, demonstram os seus escritos, ou o que deles sobreviveu no tempo, uma assertividade extraordinária e um profundo conhecimento do Homem.


Reparem que, falamos de um Homem que viveu ao tempo de Cláudio e que foi preceptor de Nero (mais precisamente, viveu entre 4 AC e 65 DC) contudo, a suas palavras são tão propícias e reais como se acabassem de ser escritas para os tempos de hoje.


Digo em jeito meio divertido, que nada de novo nasce ou, é criado, apenas andamos sempre há volta do mesmo, corram que tempos correrem.


Ponderando um pouco mais sobre o assunto, reparo que as questões redundam sempre na riqueza, não aquela que provém do Homem, mas aquela que o ornamenta.

Quanto vales? È a questão, e a sua resposta converte-se numa taxatividade frívola, ou seja, vales o que possuis.


Não é de hoje que à matéria é dado um maior valor do que ao Homem que a cria, e este texto de Séneca é demonstrativo disso mesmo. Em suma, passaram os tempos, o planeta envelheceu e o Homem permaneceu estático.


Continuamos, como há séculos a fugir das questões, continuamos donos e senhores de verdades, muitas das quais nem sabemos de onde provêem e, continuamos perdidos no egocentrismo de nós mesmos.


Este é sem dúvida um caso em que, de nada nos serviu a experiência e da mesma forma, de tão pouco nos serviu a razão, porquê? Simples, continuamos a dar mais valor ao cofre do que ao seu conteúdo.

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