14 de maio de 2010

DESABAFOS NUMA FOLHA DE PAPEL

Há dias em que tenho a alma pesada, dias em que sinto que me imponho numa espera sem sentido e sofro, com um sofrimento de Ser sentido, sem saber o porquê dele, até porque à minha volta está tudo tranquilo. Hoje é um desses dias, é um dia em que não percorro o caminho, seja ele qual for.

É estúpido que o Homem se quede assim. É estúpido que eu me quede assim, quando me devia impulsionar e andar em frente. Mas ao invés, paro e sinto um vazio, um abismo que se resume num “para quê?”. Como se tudo se anulasse face a uma falta de sentido. Para quê andar em frente? Para quê escolher um caminho? Para quê isto, ou, para quê aquilo? Sempre poderei responder a estes para quês com respostas escolásticas, escolhidas a dedo, cheias de reverência e de eloquência, mas mesmo assim, e apesar de tão doutas palavras, esbarro no vazio.

Nisto, creio, somos todos iguais! Todos, iguais como no nascimento e na morte, sentimos o vazio, com palavras simples ou complicadas, eloquentes ou rudes, todos sentimos o vazio, que não tem explicação, sentido ou rota que se defina.
Talvez… seja demasiado exigente e de pouco contentamento com as coisas simples e inexplicáveis do Homem. Ou talvez, demasiado inquietante, fazendo sempre a mesma pergunta básica mas que quebranta os alicerces do ser, para quê?

Há perguntas que possuem mil respostas, mas que mesmo assim, não retiram a força da pergunta, e o pigmeu transforma-se em Adamastor…

Li um dia algures que, o Homem complica tudo o que é simples, pode ser… Ouço repetidamente que, face à vida há que aceita-la a contento, pode ser…

Mas, este meu espírito irrequieto não aceita nenhuma das justificações, por mais lógica que qualquer uma das premissas imprima. É que há o que é entendível pela razão e há o que é entendível pelo sentido. E como é difícil que tudo seja entendível por ambos, ao mesmo tempo!

Há dias como este, em que nem a simplicidade de uma folha branca, onde derramamos os nossos devaneios, é o suficiente para transpor toda a inconstância de nós.

Para uma mulher racional, como eu sou, é difícil compreender esta incompreensão, este sentido sem sentido, este vazio onde à minha volta tudo é cheio e composto, talvez (e aqui entro no campo da mera suposição) seja porque, esteja demasiado habituada à lógica das premissas e aos passos firmes e certos do raciocínio e me tenha esquecido que nem tudo é traduzível em métodos.

Sócrates disse: “Não sou nem ateniense, nem grego, mas sim um cidadão do mundo”; eu direi: Não sou nem mulher, nem razão, mas sim um mundo.

E é por ser um mundo que me perco nos devaneios do meu ser, é por ser um mundo que não possuo todas as respostas, é por ser um mundo que me quedo no vazio e é por ser um mundo que parto, como no romance de Júlio Verne, em busca do centro da terra, que é como quem diz, em busca do centro de mim, ou, em busca do para quê?

Por muito que eu assim o quisesse, neste mundo que sou, não há manual que possa seguir, ou, mapa que me guie, não o há para mim e não o há para ninguém. Há vazios que são vazios e há vazios que advêm de tumultos, de perdas, ou simplesmente, de exaustão.

Há pesos que carregamos por vontade, há-os por imposição e há-os porque simplesmente os há, e eu creio, que é por ser assim tão simples, que para mim é difícil de aceitar e é por isso que hoje se me pesa a alma e as pernas.

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