13 de janeiro de 2012

SUMA CRÍTICA

(IMAGEM RETIRADA DAQUI)

“A cegueira e a obstinação dos homens lembra-me às vezes a cegueira e a obstinação das varejeiras infernizadas contra as vidraças. Bastava um momento de serenidade, dez-réis de bom senso, e em qualquer fresta estava a liberdade.
Mas o demónio da mosca, quanto mais impossibilidade se lhe põe diante, mais teima. O resultado é cair morta no peitoril.” – Miguel Torga in “Diário (1943)”

Logo pela matina ressoava-me ao pensamento a seguinte frase: o crítico antes de mais ambicionava ser escritor, é o fel da sua incapacidade para a escrita literária que o impele a tecer comentários sobre a obra dos que não se aquietaram em peçonhas. São flashes da memória, desta memória que com o passar dos anos vai ficando cada vez mais límpida.

Confesso, como se de um pecado mortal se tratasse na dobra do confessionário, não gosto de críticos literários e não gosto da crítica. Mais confesso que, por tamanhas alarvidades que muitos críticos produzem, deveria ser cobrado um imposto, os estados agradeciam por encherem os bolsos, e a literatura podia em fim cobrar pela sua desumanidade.

Quem estiver a ler estas minhas palavras certamente pensará: qual foi o crítico que a maltratou? Desengano, nunca fui criticada pelo que escrevi, muito menos por um crítico literário, até porque, não sou escritora e o que escrevo não se assemelha sequer a uma faúlha de literatura, isso é obra que deixo para os grandes artífices da pena.

Contudo não sofro de umbiguite aguda, graças aos bons deuses e à educação ministrada desde o berço. Tal facto, deixa-me liberta não só para me colocar no lugar do outro como para não me firmar na indiferença. E eu não sei ser indiferente, mais um pecado para o confessionário; não fosse eu ser completamente agnóstica e diria que muitas penitências vinham a galope.

Ora ante a confissão dos meus pecados, escusado será dizer que, não consigo fazer orelhas moucas ao que à boca miúda vão os críticos tecendo. Mas quem é que mandatou estes senhores com a suma crítica? Que fundo lhes assiste para serem senhores da verdade? Defensores da literatura, mas porquê, que perigo corre ela?

Senhores, a literatura não é romance de cordel, onde a donzela à beira do abismo aguarda no desespero pleno, pela salvação do príncipe encantado montado num cavalo branco.

Foi aliás, graças à ideia romanesca da crítica e dos seus senhores, sempre de espada acutilante em punho, que a literatura foi perdendo grandes escritores e grandes obras, e isto não foi feito de príncipes encantados montados em cavalos brancos, mas consciente obra de homens obstinados e cegos na sua felina cobardia.

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