(IMAGEM RETIRADA DAQUI)
“A cegueira e a
obstinação dos homens lembra-me às vezes a cegueira e a obstinação das
varejeiras infernizadas contra as vidraças. Bastava um momento de serenidade,
dez-réis de bom senso, e em qualquer fresta estava a liberdade.
Mas o demónio da mosca,
quanto mais impossibilidade se lhe põe diante, mais teima. O resultado é cair
morta no peitoril.” – Miguel Torga in “Diário
(1943)”
Logo
pela matina ressoava-me ao pensamento a seguinte frase: o crítico antes de mais
ambicionava ser escritor, é o fel da sua incapacidade para a escrita literária
que o impele a tecer comentários sobre a obra dos que não se aquietaram em peçonhas.
São flashes da memória, desta memória que com o passar dos anos vai ficando cada
vez mais límpida.
Confesso,
como se de um pecado mortal se tratasse na dobra do confessionário, não gosto
de críticos literários e não gosto da crítica. Mais confesso que, por tamanhas
alarvidades que muitos críticos produzem, deveria ser cobrado um imposto, os
estados agradeciam por encherem os bolsos, e a literatura podia em fim cobrar
pela sua desumanidade.
Quem
estiver a ler estas minhas palavras certamente pensará: qual foi o crítico que
a maltratou? Desengano, nunca fui criticada pelo que escrevi, muito menos por um
crítico literário, até porque, não sou escritora e o que escrevo não se
assemelha sequer a uma faúlha de literatura, isso é obra que deixo para os
grandes artífices da pena.
Contudo
não sofro de umbiguite aguda, graças aos bons deuses e à educação ministrada desde
o berço. Tal facto, deixa-me liberta não só para me colocar no lugar do outro
como para não me firmar na indiferença. E eu não sei ser indiferente, mais um
pecado para o confessionário; não fosse eu ser completamente agnóstica e diria
que muitas penitências vinham a galope.
Ora
ante a confissão dos meus pecados, escusado será dizer que, não consigo fazer
orelhas moucas ao que à boca miúda vão os críticos tecendo. Mas quem é que
mandatou estes senhores com a suma crítica? Que fundo lhes assiste para serem
senhores da verdade? Defensores da literatura, mas porquê, que perigo corre ela?
Senhores,
a literatura não é romance de cordel, onde a donzela à beira do abismo aguarda no
desespero pleno, pela salvação do príncipe encantado montado num cavalo branco.
Foi
aliás, graças à ideia romanesca da crítica e dos seus senhores, sempre de
espada acutilante em punho, que a literatura foi perdendo grandes
escritores e grandes obras, e isto não foi feito de príncipes encantados
montados em cavalos brancos, mas consciente obra de homens obstinados e cegos
na sua felina cobardia.
Sem comentários:
Enviar um comentário