
Voar é preciso e preciso é gerar um poema, soltar a algema, firmar os pés no impossível, arremessar os pensamentos para lá das estrelas…
A palavra de voo é brinquedo com que se brinca em segredo, beijo com que se beija o beijar do beijo, sonho com que se sonha o sonhar do sonho, véu com que se despe o velar do ver… olhar com que se perfura a ocultação do ser.
A palavra de voo nunca é uma palavra de prisão. Voar é realizar a ânsia do nosso grito nas figuras de voo que nos conduzem à descoberta do que sempre está mais além. Mais que imitar, o voo é assumir o fascínio da verdade, é assumir o caminhar pelas múltiplas vias por abrir.
Não há caminhos feitos, prontos e acabados. Com o poeta António Machado, diremos que há caminhos possíveis que se fazem caminhando…
Se o caminho se faz andando, nunca o voo pode ser visto como uma perfeição pronta e acabada; perfeição que não existe, conquista sempre distante…
Descansar tranquilamente sobre um pedaço de realização conseguida é começar a viver de saudade. Todo o caminho, toda a vida, tem uma história feita de pequenos nadas, através dos horizontes que o persistente voo franqueia.
Voar é preciso…
Se quisermos tentar ser nós mesmos, teremos de aprender o sabor da liberdade, aprender a dureza de realizar a nossa diferença nas figuras de voo que levam ao crescimento. De pequenos nadas, o caminho se faz caminhando…
José Manuel Rodrigues Alves in PALAVRAS . Editora Fora do Texto.
Sem comentários:
Enviar um comentário