10 de maio de 2009

A PERSEVERANÇA E A PRESSA


“Se há pessoas que não estudam ou que, se estudam, não aproveitam, elas que não se desencorajem e não desistam; se há pessoas que não interrogam os homens instruídos para esclarecer as suas dúvidas ou o que ignoram, ou que, mesmo interrogando-os, não conseguem ficar mais instruídas, elas que não se desencorajem e não desistam; se há pessoas que não meditam ou que, mesmo que meditem, não conseguem adquirir um conhecimento claro do princípio do bem, elas que não se desencorajem e não desistam; se há pessoas que não distinguem o bem do mal ou que, mesmo que distingam, não têm uma percepção clara e nítida, elas que não se desencorajem e não desistam; se há pessoas que não praticam o bem ou que, mesmo que o pratiquem, não podem aplicar nisso todas as suas forças, elas que não se desencorajem e não desistam; o que outros fariam numa só vez, elas o farão em dez, o que outros fariam em cem vezes, elas o farão em mil, porque aquele que seguir verdadeiramente esta regra da perseverança, por mais ignorante que seja, tornar-se-á uma pessoa esclarecida, por mais fraco que seja, tornar-se-á necessariamente forte. - Confúcio, in A Sabedoria de Confúcio”




A perseverança tem sido olvidada nos tempos que correm. Talvez seja a necessidade de viver de pressa, de conquistar de pressa, de saber de pressa, de possuir de pressa…

Tudo muito à pressa, tudo muito para ontem, tudo e um vazio de nada, porque a pressa não deixa tempo para mais.

Olho no fundo dos olhos das pessoas com que me cruzo e deparo-me com demasiada neblina, demasiado fervilhar, um remoinho de sentidos e uma panóplia de razões, um vintém de mil, mas de concreto, de acerto, um vazio de nada.

Os corações estão ao rubro, a alma para além do tudo, traduções dessa agitação ilusória de tudo se querer na cadência de um segundo.

Os ensinamentos do ontem, de quem viveu compasso a compasso, de quem cimentou os seus alicerces à custa da experiência e da perseverança, com tempo e sem pressas, são colocados na gaveta, de nada servem, inúteis como as pedras da calçada.

Porque, não é o que os de hoje querem, porque, não dão respostas de imediato, porque, não são soluções instantâneas como a comida congelada e pronta a fazer em 10 minutos no microondas.

Esta medida que hoje em dia se usa, de apenas ter utilidade o que acertar na mouche, faz com que se sinta no transeunte com que nos deparamos em todo e qualquer lugar, um gélido cumprimentar de competidor em busca do que de pressa o levará ao pódio.

Daí que, aos de hoje, a perseverança nada diga. Como é que se poderá explicar à pressa, que é na busca diária, no esforço contínuo, na construção lenta mas convicta, na queda, no erro… enfim, na aprendizagem e na laboração incessante de nós próprios, que se atingem os fins, quando com a pressa já eles partiram?

Como é que é possível, aos de hoje, compreender as palavras, dos de ontem, como por exemplo, estas de Confúcio?

1 comentário:

Jorge Lourenço Goncalves disse...

A quem o diz, colega...
Tenho 65 anos e a minha vida tem sido feita de muita perseverança, de muita luta...