16 de junho de 2010

TEMPO

(FRANCISCO DE GOYA - DISPARATE N.º 13)

O tempo, esse estranho que nos faz desejar sempre mais, mais um dia, mais uma hora, mais um minuto…

Quantos de nós não sentimos que não há o suficiente? Que não há vida bastante para tudo o que queremos e desejamos, que nos falta o… tempo?

Mesmo os mais livres de nós, sentem a sua escassez e no entanto ele aqui está, presente.

Das frases mais constantes da boca dos homens, sejam eles de que nacionalidade, etnia ou credo forem é: “preciso de tempo”. Eis um ponto, de entre tantos outros, de unidade da Humanidade.

Quanto mais intensamente nos sentimos vivos nos dias, menos sentimos o tempo passar, talvez seja porque não pensemos nele mas, por muito que se queira, o certo é que não nos conseguimos sentir intensamente a toda a hora, e quem culpar… ao tempo?

Pensemos então nas frases que dizemos, mesmo aquelas que são trocadas entre os nossos próprios muros, naqueles momentos de cosmopolita vivência e serão algo como: “Preciso de arranjar tempo para…”, “Será que ainda vou a tempo?”, “Quanto tempo falta para…”.

É curioso observar que nos preocupamos com algo, que deveria ser, em bom rigor, irrelevante. Não é o tempo que o homem conta nos seus relógios, ou, nos seus calendários que interessa, e porquê? Porque esse tempo não é nosso, é apenas método de contagem e de cálculo, e todos nós sabemos que em matéria de cálculo o que para uns é muito, para outros é pouco.

Divagando um pouco sobre o assunto pergunto: como seria medido o tempo dos antigos, aqueles que viviam (e sabiam viver) sem calendário e sem relógio?

O bom do Homem, é ele ter história e, não ter sido construído e criado hoje, mas antes pertencer a todos os tempos e a outros tempos.

O mau do Homem é precisamente o mesmo, tendo história e tendo pertencido a outros tempos, acha que tudo o que ficou para trás é irrelevante e procura, deixando as suas bases, criar tempos novos.

Ora, é precisamente neste ponto que creio estar parte da falta do tempo do Homem, na necessidade de criar mais, de ter mais, sem sequer saber para que quer o mais.

O Homem de hoje vive de pressas e a requerer tempo para ontem, quando no ontem não soube usar o seu tempo e quando no hoje não sabe para o que quer.

Por isso pergunto: será que queremos e precisamos de mais tempo? Ou será que, o que realmente nos falta é aprender a viver com tempo, lembrando que tempo é apenas tempo e não um bater dos ponteiros do relógio, ou, um dia num calendário?

Relembrando um ditado antigo e corriqueiro digo, podemos não ter tudo o que queremos, mas certamente, temos tudo o que precisamos, o resto são as escolhas que fazemos e nessas a culpa, certamente, não é do tempo.

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